A reação europeia, conduzida pelo Congresso de Viena e pela Santa
Aliança, não conseguiu estancar o movimento revolucionário iniciado na
segunda metade do século XVIII. As revoluções da América luso-espanhola
foram bem-sucedidas e a Grécia se libertou do julgo turco.
Por volta de 1830, uma nova onda revolucionária abalou a Europa: na
França, Carlos X, sucessor de Luís XVIII (foto), foi obrigado a abdicar
do poder; a Bélgica, dominada pela Holanda, rebelou-se, proclamando sua
independência; na Itália, as associações revolucionárias impuseram uma
Constituição; na Alemanha eclodiram movimentos liberais
constitucionalistas; a Polônia tentou obter sua independência. Essas revoluções provocaram um golpe violento na reação representada
pela Santa Aliança, aniquilando-a. Além disso, outros fatores podem ser
arrolados para explicar o problema. Entre 1846 e 1848, as colheitas na
Europa Ocidental e Oriental foram péssimas. Os preços dos produtos
agrícolas subiram violentamente e a situação das classes inferiores
piorou. Ao mesmo tempo, verificava-se uma crise na indústria, particularmente no
setor têxtil. O aumento da produção ocasionou a superprodução. A crise
na agricultura diminuiu ainda mais o consumo dos produtos manufaturados
pelo empobrecimento dos camponeses. A paralisação das atividades fabris
resultou em dispensa dos trabalhadores e redução nos salários,
exatamente quando os preços dos gêneros de primeira necessidade subiam
vertiginosamente. Os recursos financeiros dos países europeus foram carreados para a
aquisição de trigo na Rússia e Estados Unidos. Isto afetou os grandes
empreendimentos industriais e a construção das estradas de ferro, em
franco progresso na oportunidade. A paralisação das atividades nestes
setores arrastou outros, provocando a estagnação econômica geral. A crise variou de país para país. Na Itália e Irlanda foi mais agrária;
na Inglaterra e França, industrial, bem como na Alemanha. A miséria
gerou o descontentamento político. A massa dos camponeses e proletários
passou a reclamar melhores condições de vida e maior igualdade de
recursos. No fundo, constituíam-se ideias socialistas, mas como não existia um
partido socialista organizado que pudesse orientar estas classes, coube
aos liberais e nacionalistas, compostos pela burguesia esclarecida,
exercerem a oposição ao governo, contando com o apoio da massa, sem
orientação própria.
França
Luís Felipe fora colocado no trono da França pela Revolução de 1830,
representando os ideais da burguesia e tendo por objetivo conciliar a
Revolução com o Antigo Regime. A oposição popular ao regime era
manifesta. Em 1834 deu-se a insurreição dos operários de Lyon. As
tendências republicanas ganhavam adeptos através das várias sociedades
políticas fundadas com este propósito.
A oposição não era somente popular. Havia muitos partidários da volta de
Carlos X, exilado desde 1830. Os antigos correligionários de Napoleão
acercavam-se de Luís Bonaparte, seu sobrinho.
O partido socialista opunha-se ao governo, propondo reformas. Seus
líderes, Louis Blanc, Flocon e Ledru-Rollin iniciaram em 1847 uma
campanha em todo o país visando à reforma eleitoral. A forma encontrada
para a difusão da campanha foram os banquetes nos quais os oradores
debatiam a questão.
Em 22 de fevereiro, o ministro Guizot proibiu a realização de um
banquete, o que provocou a eclosão da revolta. Surgiram as barricadas
nas ruas com o apoio de elementos da Guarda Nacional. A revolta ganhou
vulto. Guizot foi demitido em favor de Thiers, que nada resolveu. A
Câmara foi invadida e os deputados fugiram. Luís Felipe abdicou. O
governo provisório foi organizado e proclamou a Segunda República da
França, com a participação de burgueses liberais e socialistas. No dia
23 de abril, realizou-se a primeira eleição na Europa com o voto
universal masculino, direto e secreto. A crise econômica, entretanto, não fora debelada; pelo contrário, se
agravara. O governo provisório, a fim de ofertar trabalho aos
desempregados, criara as "oficinas nacionais", empresas dirigidas e
sustentadas pelo Estado. O pagamento dos salários era coberto com a
elevação dos impostos, o que redundou em crise maior. O fechamento destas oficinas fez voltar à rua o proletariado. Tentou-se
fazer uma revolução dentro da própria revolução. A Assembléia delegou
poderes excepcionais ao general republicano Cavaignac, que abafou
violentamente a revolta. Dezesseis mil pessoas foram mortas e quatro mil
deportadas. A questão operária foi resolvida segundo os interesses da
burguesia. Em 12 de novembro de 1848 foi promulgada uma nova Constituição. O
presidente da República seria eleito por quatro anos, sendo Luís
Napoleão o primeiro presidente eleito. Em 1851 deu um golpe político,
implantando o II Império da França, assumindo o governo com o título de
Napoleão III.
Itália
A Itália, em 1848, estava dividida em vários Estados, todos eles com
governo tipicamente despótico. A crítica a este regime era conduzida
pelas sociedades secretas, principalmente a Carbonária. Ao mesmo tempo,
reformas liberais visavam à unificação dos Estados italianos. Para
tanto, seria preciso expulsar os austríacos, que desde o Congresso de
Viena adquiriram supremacia sobre a Itália. Em janeiro deu-se uma revolta no Reino das Duas Sicílias. O rei Fernando
II foi obrigado a conceder uma Constituição, o mesmo ocorrendo na
Toscana e no Estado papal. No reino de Lombardia iniciou-se séria oposição aos austríacos. O rei de
Piemonte, Carlos Alberto, tomou a liderança da revolta, declarando
guerra aos austríacos. Os exércitos austríacos obtiveram duas vitórias
(Custozza e Novara), forçando Carlos Alberto a abdicar em nome de seu
filho Victor-Emanuel II. A repressão implantada pelos austríacos foi
violenta em toda a península. A tentativa liberal e nacionalista dos
italianos tinha sido frustrada.
Alemanha
A Alemanha, depois do Congresso de Viena, passara a constituir uma Confederação composta por numerosos estados, cuja política exterior era coordenada por uma Assembléia que se reunia em Frankfurt. A Prússia e a Áustria lideravam esta Confederação. Visando à maior integração entre os Estados germânicos foi criado, em 1834, o Zollverein, espécie de liga aduaneira que liberava a circulação de mercadorias nos territórios dos membros componentes, em torno da Prússia e sem a participação da Áustria. Esta política econômica estimulou o desenvolvimento industrial, que por sua vez acentuou o nacionalismo germânico, o desejo de independência e de união política. O mesmo aspecto liberal e nacionalista que vimos aparecer na Itália também se manifestava lá. Na Prússia, em 18 de março de 1848, verificou-se extraordinária manifestação popular diante do palácio real, provocando a reação das tropas. O movimento alastrou-se e Frederico Guilherme, rei da Prússia, teve de se humilhar prometendo uma Constituição ao povo insurgido. Vários Estados juntaram-se ao movimento, aproveitando a oportunidade para tentar a unificação política. Em março, reuniu-se em Frankfurt uma assembléia preparatória para um Parlamento representativo, que deveria iniciar seus trabalhos legislativos em maio. Os príncipes alemães aproveitaram-se da divisão entre os revolucionários para retomar o poder abalado. Em novembro de 1848, Berlim foi tomada e a Constituinte dissolvida pelo exército. O movimento liberal fora abafado. A Assembléia de Frankfurt decidiu eleger como imperador o rei da Prússia, que recusou por se considerar rei por vontade de Deus. Propôs, entretanto, aos príncipes alemães a criação de um império. A Áustria, em 1850, impôs à Prússia o recuo nesses projetos e em qualquer mudança da ordem existente.
A Alemanha, depois do Congresso de Viena, passara a constituir uma Confederação composta por numerosos estados, cuja política exterior era coordenada por uma Assembléia que se reunia em Frankfurt. A Prússia e a Áustria lideravam esta Confederação. Visando à maior integração entre os Estados germânicos foi criado, em 1834, o Zollverein, espécie de liga aduaneira que liberava a circulação de mercadorias nos territórios dos membros componentes, em torno da Prússia e sem a participação da Áustria. Esta política econômica estimulou o desenvolvimento industrial, que por sua vez acentuou o nacionalismo germânico, o desejo de independência e de união política. O mesmo aspecto liberal e nacionalista que vimos aparecer na Itália também se manifestava lá. Na Prússia, em 18 de março de 1848, verificou-se extraordinária manifestação popular diante do palácio real, provocando a reação das tropas. O movimento alastrou-se e Frederico Guilherme, rei da Prússia, teve de se humilhar prometendo uma Constituição ao povo insurgido. Vários Estados juntaram-se ao movimento, aproveitando a oportunidade para tentar a unificação política. Em março, reuniu-se em Frankfurt uma assembléia preparatória para um Parlamento representativo, que deveria iniciar seus trabalhos legislativos em maio. Os príncipes alemães aproveitaram-se da divisão entre os revolucionários para retomar o poder abalado. Em novembro de 1848, Berlim foi tomada e a Constituinte dissolvida pelo exército. O movimento liberal fora abafado. A Assembléia de Frankfurt decidiu eleger como imperador o rei da Prússia, que recusou por se considerar rei por vontade de Deus. Propôs, entretanto, aos príncipes alemães a criação de um império. A Áustria, em 1850, impôs à Prússia o recuo nesses projetos e em qualquer mudança da ordem existente.
Áustria
O Império austríaco dos Habsburgos era muito heterogêneo. Estava com-
posto por alemães, húngaros, tchecoslovacos, poloneses, rutenos,
romenos, sérvios, croatas, eslovenos e italianos. Destes povos, somente
os húngaros tinham certa autonomia. Os mais numerosos, húngaros e
tchecos, conscientes de sua individualidade, buscavam reconhecimento
imperial.
Os alemães da Áustria reclamavam contra o governo de Metternich.
Insurgiram-se estudantes, burgueses e trabalhadores, forçando a queda do
chanceler e a convocação de uma Assembléia Constituinte. Os eslavos seguiram o exemplo. Orientados por Palcky, convocaram uma
reunião dos povos eslavos em Praga para 2 de junho. O congresso
paneslavita foi dissolvido militarmente. Viena foi tomada, formando-se
um governo absoluto após ter sido bombardeada, sendo implantado um
regime de perseguição policial.
Leonardo França
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